segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O QUE SE ESCONDE NO CORAÇÃO QUANDO UMA MENTE BUSCA ENTENDER O AMOR?

Há algum tempo, muito influenciado pelas leituras de teologia que fiz, acrescentando a outras filosóficas (como Agostinho), o tema Amor ocupa um lugar cativo nas minhas meditações. É tanto que já escrevi alguns textos sobre o assunto, já dei alguns estudos – podendo classificar um deles como o que mais me marcou – e já conversei bastante sobre o amor com amigos e pessoas próximas. Não que o amor seja algo que investigo constantemente, ou que estudo com seriedade, mas é, com constância, uma questão que perturba meus pensamentos. 

Perturba por não ser um tema cativante por sua teoria, mas por sua prática. Eis a razão de eu não tentar estuda-lo seriamente. Seria como corromper a ideia e eu sentiria remorso por isso. Mas as dúvidas sobre o seu conceito – e sua consequente aplicação – me perturba mais ainda. Um sujeito como eu, que estuda filosofia e começa a se interessar pelos escritos de Hegel, onde o conceito de algo é que determina a sua aplicação real, não pode valorizar uma coisa só pelo seu aspecto prático. É por isso que, mesmo eu não correndo atrás de compreender o amor, ele constantemente vem, bate na porta de minha mente do nada, e me assombra com suas questões: o que é o amor? O que é o amar? Eu estou amando? Como estou amando? 

Sem sombras de dúvidas não é outro tipo de amor que mais me interessa compreender, a não ser o amor cristão, ou mesmo do próprio Cristo. O amor caritas. Aquele mesmo, traduzido por caridade mesmo sem significar filantropia. O amor caritas me perturba porque é um amor que faz o indivíduo amante despir-se de si. Nega-se a si mesmo, doando-se a outro. Ora, não foi exatamente isso que Jesus Cristo fez e que conclamou que nós fizéssemos? Não é esse o amor que mais temos dificuldades para vivê-lo? Conceitualmente ele é lindo. Na prática, é árduo. Todo o dia entro em conflito comigo mesmo por causa disso.

O mais cativante sobre o amor caritas é que, mesmo parecendo fácil de compreender o seu conceito, ele não se esgota facilmente. Ele se aplica a qualquer relação. Do homem com o Eterno, do Eterno com o homem e do homem com seus semelhantes. Não importa o tipo de relação: amigos, parentes, pessoas distantes, etc. Até mesmo, e de uma forma excessivamente bela, a uma relação conjugal.

E foi este último aspecto de relação humana que me trouxe de volta a pensar sobre o amor.

Ontem, ouvindo a música Rio Torto, do Marcos Almeida, me peguei gostando da musicalidade mesmo sem ver sentido na letra – coisa incomum na minha vida, que fique claro. Ouvi mais uma vez, agora lendo a letra simultaneamente. Por mais poética que a letra fosse, me vi desafiado a entendê-la. Sempre que nessa canção eu ouvia a palavra amor, desde sua versão em estúdio com a banda completa, e agora na versão acústica, eu só conseguia pensar no amor de modo geral, até que vi na letra tal parte: “Ela, e eu/ Navegar”. 

Como não saquei antes que a música se referia a pureza e a dificuldade de um amor entre duas pessoas? Um amor que, mesmo com as dificuldades enfrentadas por um rio torto, consegue continuar a percorrer o seu percurso? Quando a compreendi por esse viés consegui ver sentido naquela poesia que não exigia interpretação. Vi beleza naquela letra. Mas vi uma face de mim mesmo: qual a dificuldade que tenho de associar a palavra amor a um relacionamento a dois? 

Assim percebi que há muito tempo eu já não ouço a palavra amor e penso no amor romântico. Nem muito menos em eu sendo um dos personagens de uma relação afetiva. Isso me assombrou, mesmo eu não sabendo se era bom ou ruim está nessa condição. 

Preciso confessar: mesmo não sendo o foco dos meus dias pensar no assunto, eu, um jovem solteiro, que rompeu a barreira dos 20 anos a quase 2, até penso com certa frequência sobre namoro, casamento, etc. Penso se sou uma pessoa adequada para isso ou não. Penso que, não sendo, como seria viver só (mesmo não sendo solitário; sozinho e solitário são coisas diferentes). Mas e se eu for: como dar um próximo passo? Como “eleger” alguém para está ao meu lado? Quais os critérios que devo ter para a minha escolha? Em qual tipo de moça eu penso? Essas últimas questões me incomodam há tempos, mesmo não sendo prioritárias nesse momento da vida. Mas hoje eu dei um novo passo no que diz respeito a minha vida, e foi libertador.

Não, o passo não foi “eleger” alguém que contemple os meus pré-requisitos. Pelo contrário. Hoje percebi que, no pensamento de buscar um amor, eu só conseguia amar a mim mesmo. E isso não é amor. 

Todas as vezes que tentei pensar em uma lista de requisitos necessários para viver ao lado de alguém, sempre me colocava como o padrão. “Tal coisa se adequa a mim, essa outra nem pensar”. E quanto mais a lista crescia, mais ela se assemelhava a mim. Daí cheguei a triste e frustrante conclusão: eu queria mesmo é viver um amor a dois comigo mesmo. Mas isso é horrível. Primeiro porque não seria um amor a dois. Segundo porque eu não sou bom o suficiente. Se não o sou suficientemente bom para mim mesmo, como julgar que seria para alguém? E como exigir de alguém uma perfeição que eu não posso oferecer?

Essa conclusão me trouxe a escrever esse texto sem saber qual será o próximo episódio de minha vida, mas desejando libertar-me desse egoísmo escondido em um local tão profundo dentro de mim. Demorei 22 anos e 9 meses para identificá-lo.  E desejo para você, que se aventurou a ler esse texto, a mesma libertação. Afinal de contas: amar é esvaziar-se e doar-se, e não exigir que o Outro seja você mesmo. 

Anderson Bezerra

terça-feira, 8 de março de 2016

LIÇÕES DO SALMO 51: O CÂNTICO DE ARREPENDIMENTO DE DAVI

Texto escrito para a turma de Juvenis, da Escola Bíblica Dominical da Assembleia de Deus em Natal/RN, congregação de Conjunto Santarém. O conteúdo corresponde a lição 10 do 1º Trimestre de 2016. Aula dada no domingo 06 de março de 2016.

O CONTEXTO DO SALMO 51

O contexto do Salmo 51 apresenta Davi como Rei em Israel, de popularidade e autoridade reconhecida e comprovada. Israel estava em guerra, na qual Davi não tinha ido à batalha. Certo dia, passeando em seu palácio, viu uma linda mulher se banhando. Desejou esta mulher e mandou-a chamar, sem importa-se com o fato dela ser casada (e ele também). Depois de consumado o adultério a mulher, por nome de Bate-Seba, engravidou. Davi, ao saber disto, mandou chamar o esposo da mulher, que estava na batalha, para uma tentativa de esconder o adultério. Pensava ele que se o esposo, chamado Urias, se deitasse com Bate-Seba, ele pensaria ser o pai da criança. Urias, mesmo voltando à Jerusalém, não faz o que Davi pensava e, com isto, acaba assinando sua sentença de morte.

Aqui se encontra a descrição de um dos maiores pecados da vida de Davi, que fora chamado pelo próprio Deus de “o homem segundo o meu coração”. Depois dessa série de pecados, pensando Davi ter encoberto tudo, pois Urias havia sido morto e ele tinha se casado com a viúva, Natã, profeta do Senhor, pede para conversar com Davi. Na conversa ele anuncia a Palavra de Deus sobre o pecado de Davi, deixando claro que nada passa despercebido pelos olhos do Senhor. Davi se arrepende e transforma sua oração a Deus e um cântico poético, que é o Salmo 51.

AS LIÇÕES DO SALMO 51

A mensagem deixada por Davi neste Salmo é única, mas descreve situações diferentes como: seu estado antes do arrependimento, seu estado depois do arrependimento, quem ele é independentemente de suas mudanças de estado e como Deus o vê e age. O interessante é que tudo isso também se aplica a nós. Vamos ao Salmo:

V. 1-3: Nestes versículos Davi mostra que o verdadeiro arrependimento, além de revelar a nossa culpa pelo ato pecaminoso, também faz-nos perceber a maldade do ato e não desejá-lo mais. É bom diferenciar a tentação, que virá novamente, do desejo, que é ter consciência do que é pecado e continuar querendo-o. O arrependimento promove uma mudança de mente que nos faz não querer mais o pecado para nós.

V. 4: Aqui Davi deixa claro que, apesar de Davi ter pecado contra o próximo (Urias), o pecado é, acima de tudo, um ato de rebeldia contra Deus. O homem rebela-se contra a vontade de Deus quando peca.

V. 5-11: Nestes versículos Davi revela que ele, e todo homem (incluindo a nós), é corrompido por natureza pelo pecado. Até um convertido, como Davi, está sujeito a pecar, por isso a necessidade de entregar-se a Deus todos os dias, manter-se ocupado e sempre vigiando, orando para que Deus nos transforme cada vez mais.

V. 12: Esse versículo é chave em todo o Salmo. Ele nos diz que a razão de cairmos em pecado, principalmente os mais graves, é sintoma de nosso distanciamento de Deus. Davi ficou suscetível ao pecado quando perdeu a alegria da salvação, ou seja, quando parou de buscar alegria e contentamento em Deus, e distanciou-se d’Ele.

Note que somos tentados a buscar alegria e contentamento em pessoas ou em coisas. Tem momentos que só nos sentimos completos, felizes, alegres quando estamos ao lado de uma pessoa, ou tendo em posse alguma coisa, ou até mesmo desempenhando alguma atividade. Tudo isso nos leva a idolatria e a mentira de que estas coisas nos completam. Só em Jesus temos completa alegria e completude. Só n’Ele somos felizes e alegres. Caímos em pecado quando nos distanciamos d’Ele e esquecemo-nos disso.

V. 13-15: A alegria e contentamento que só temos em Deus nos leva a anunciá-lo e louvá-lo.

V. 16-19: É preciso lembrar que nossas obras de nada valem para conquistar algo de Deus. Ele nos perdoa por Sua graça e nos leva a mudar. Não podemos colocar nossa esperança de receber perdão nem no nosso arrependimento, mas somente em Jesus. Lançar toda nossa fé n’Ele, sabendo que Ele é gracioso. Por isso o que agrada ao Senhor é um espírito quebrantado, que reconhece que é carente de Deus.

CONCLUSÃO


Conclui-se assim que toda essa situação passada por Davi se aplica a nós pelos seus princípios. Podemos não ter passado e não passar por uma situação igual, mas é certo que pecamos e precisamos nos arrepender. Estas lições nos ajudam a repensar e a repousar na graça de Jesus Cristo. 

Esta canção vem a calhar com a mensagem e fica como dica:


terça-feira, 3 de novembro de 2015

O QUE ESTÃO FAZENDO COM A IGREJA: O PENSAMENTO CRÍTICO EM FAVOR DA FIDELIDADE A SÃ DOUTRINA


No início de 2013, no auge do florescimento da teologia reformada em mim (coisa que teve início em 2012), comprei o livro em questão nas saudosas promoções da Livraria Erdos e, mesmo sem tempo de ler no mês que ele chegou (março), não contive a empolgação e "devorei-o" em poucos dias. Pode não ter sido o melhor e nem mais profundo livro de teologia que já li, mas foi um dos que mais me cativaram enquanto eu lia. Escrevi essa resenha ainda em 2013, para postar no meu perfil do skoob.com.br e hoje decidi publicá-lo aqui, já que é um blog para depositar os meus textos. 

Segue a resenha na íntegra e se revisão:

""O QUE ESTÃO FAZENDO COM A IGREJA" foi o primeiro livro do Rev. Augustus Nicodemus que li. Já o conhecia pelos seus sermões, conferências e palestras, como também pelo seu blog: O tempora, O mores! De onde saiu o conteúdo desse livro.

O livro referido foi uma coletânea de post's do autor em seu blog, post's esses, relacionados ao assunto da ascensão e queda do evangelicalismo brasileiro. Apesar de cada capítulo ser um post diferente, a obra foi organizada de maneira que cada capítulo seja uma continuidade da ideia anterior, ou seja, uma sequencia lógica de raciocínio.

Superei minhas expectativas ao ler essa obra. De fato eu já esperava que algo bom viesse de Nicodemus, tanto pelo currículo como pela aparente fidelidade a Bíblia. Augustus Nicodemus acaba sintetizando muito bem a situação da Igreja Evangélica em nossos tempos, e infelizmente, essa mensagem tem se tornado cada vez mais atual, já que o declínio teológico está cada vez maior, e assim a igreja anda se distanciando cada vez mais do autêntico evangelho.

Liberais, neoliberais, neo-ortodoxos, libertinos, reformados, legalistas, neopentecostalismo, são os pontos abordados com precisão pelo autor, que com uma linguagem culta, e por vezes acadêmica (talvez seja porque o público alvo venha desse ciclo) nos leva a refletir sobre nossas bases, nossos fundamentos e nossa fé. Seria excelente que todo cristão compreendesse, ao menos um pouco, sobre o assunto.

Não vou me deter a contar o que está escrito, espero apenas que você, ao ler essa resenha (que na verdade é feita para mim mesmo), sinta-se desejoso de ir a fundo na leitura desse livro, afinal, precisamos entender "O que estão fazendo com a Igreja" Brasileira.

Em Cristo,
Anderson Bezerra."

domingo, 1 de novembro de 2015

CRÔNICAS DE FRACASSO E FOGO

Ele era um cara gente fina, boa praça e, apesar de não ser boa pinta, sempre se dava bem com os que lhe cercavam, apesar de viver sozinho. Ele levava uma vida paradoxalmente desempolgante na sua corrida rotina. Não sei bem se ele vivia, mas ele levava a vida. Com uma mente ocupada, qualquer vida corrida pode torna-se uma jornada desempolgante.

Apesar de tudo, a realidade teimava em defrontar-se com ele, e mostrar-lhe a sua verdadeira face: o nada. Pois é, cara, com ele nada acontecia; nada aparecia; nada mudava. Era sempre a mesma morgação. A sua desempolgante vida que só empolgava na imaginação.

Mas com toda a dureza dessa mórbida realidade, ela (a realidade) corriqueiramente lhe dava uma trégua e lhe oferecia uma luz, uma nova moldura, uma janela para ver um arco-íris. Ela lhe oferecia uma novidade que empolgava, que dava certo gás para que a vida lhe parecesse encantadora.

Certo dia, numa tediosa e estressante noite de semana, atolado de trabalho (o que era absolutamente normal e constante), ele para seu carro numa praia urbana para sentir a natureza, para esperar que a natureza lhe roube o cansaço e solidão, para que a natureza lhe faça sentir ser-com-alguém no mundo; pois viver sozinho, em algum momento, cansa.

Todos os seus colegas de trabalho, tão próximos a ele no cotidiano, e tão alheios a sua vida, não são companhias. São como máquinas que se relacionam com o humano, mas em nada lhe acrescenta a sua humanidade. Não somam em nada a sua vida.

Mas naquela noite, naquele momento em que ele parou para a natureza lhe tocar, outro humano lhe tocou. Ela, ela lhe tocou a vista. Uma moça encantadora, mas comum. Seu rosto era comum, suas vestes eram comuns, seu caminhado era comum e sua vida... a sua também parecia comum.

E o que fez essa moça lhe tocar a vista? A identificação, a correspondência.

Uma vida desinteressante enxerga outra vida desinteressante e, enfim, reconhece: ninguém é sozinho no mundo.

O olhar dele seguiu os passos dela. Na sua cabeça uma voz firme e despertadora lhe diz repentina e repetitivamente: “seje homi, seje homi”. E é essa voz que faz com que, além do olhar dele acompanhar os passos dela, os seus pés também fazer o mesmo.

Ele, tomando uma atitude há anos impensável, segue a moça que lhe despertou o olhar. Aproxima-se dela e, com uma voz trêmula e tímida, lhe deixa transparecer o interesse através de palavras sem nexos. Ela, que espantosamente ver-se defronte a uma novidade, uma interrupção daquele percurso que fazia todos os dias naquela praia urbana, ao voltar do trabalho para casa, viu-se também encantada. Sem reação, ambos trocaram o número de contato.

Agora duas vidas desempolgantes confrontavam-se. Agora nenhum dos dois tinha conhecimento sobre o que fazer.

O anormal é horrendo. É catastrófico.

A vida apenas dá sedativos, vez ou outra, para que o cotidiano desempolgante não os consuma.

O que aconteceu após a isso não se sabe. O que se sabe é que os sedativos, as novidades que quebram a rotina, são as que dão conteúdo a história duma vida.

sábado, 31 de outubro de 2015

HEGEL: DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO

"Por conseguinte, o desenvolvimento do espírito consiste em que seu extrinsecar-se e o seu cindir-se é simultaneamente o vir a si mesmo. Este ser consigo mesmo do espírito, este vir a si próprio, pode ser considerado como o seu fim mais elevado e absoluto; só isto ele quer e nada mais" (HEGEL, 1996, p. 397)

O desenvolvimento do espírito não é um vir-a-ser, é um vir-a-si. O espírito, no fim da história, não estará modificado, estará experiente. Terá conhecido a si, sem, no entanto, ser diferente.

Esta é uma reflexão particular sobre o pensamento de Hegel, em especial da sua filosofia da história, com o desenvolvimento do espírito de forma dialética e a questão da verdade.

Ou a verdade é imutável e, portanto, sem história (coisa defendida por Hegel no mesmo livro da citação acima), e o desenvolvimento do espírito é só um vir-a-si, sob a égide do autorreconhecimento, e no fim da história a verdade será conhecida e revelada, por assim dizer, OU a verdade é uma construção, e o desenvolvimento do espírito será uma forma de modificá-lo através da história, e a verdade conhecida no fim terá sido uma verdade construída nesse desenvolver-se do espírito.

Posso ter me embananado nessa questão, mas fica o registro do desenvolver-se do meu conhecimento.

REFERÊNCIAS:

Hegel. Introdução a História da Filosofia. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

TENTAÇÃO HEIDEGGERIANA



No segundo semestre do ano passado (2014.2), eu estava pagando a disciplina Metafísica e estudando Heidegger na mesma. Estava gostando do filósofo e decidi comprar o livro dele da coleção Os Pensadores, em um sebo virtual. 


Passando alguns dias, o livro chegou pelos Correios e eu me deparei com essa dedicatória ao abrir o livro. Logo pensei: "Essa professora deve ser um pouco ingrata por vender um presente que recebeu". 

Passando os dias, comecei a levar o livro para as aulas, com com intenção de acompanhar a leitura feita em sala. No intervalo, o professor da disciplina se aproximou de mim e reparou no livro, logo mostrei e contei sobre a dedicatória para a "ingrata" professora. Ele pediu para ler.

Ao ver a dedicatória, o professor, em silêncio, levou consigo o livro para o seu birô e folheou alguns papéis, enquanto lia a dedicatória. Só observei de longe. Na volta ele me mostra o livro e diz: "rapaz, que interessante, essa professora aqui é uma das grandes estudiosas do Heidegger no Brasil, com livros publicados sobre o pensamento dele. Inusitado um aluno dar esse livro a ela, que já devia ter todos os livros do Heidegger". 

No momento eu tive aquela sensação de nerd de humanas, e pensei que tinha uma raridade em minhas mãos. Pesquisei na Internet e vi que a professora, de fato, era bem conhecida nos círculos heideggerianos do Brasil, mas havia falecido em Santos, há cerca de um ano antes do livro ser posto à venda, e era exatamente de Santos o sebo no qual eu comprei o livro.

Enfim, a história não significa nada demais, é só um registro que gosto de gravar na memória: a história de cada livro que tenho.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A BUSCA DO REINO AQUI OU A BUSCA DE FAZER COM QUE O REINO SEJA AQUI


Os movimentos cristãos no século XXI andam cada vez mais plurais. Mas se há uma divisão justa, em termos bíblicos, é a divisão entre o que é autêntico e o que é inautêntico. Certo e errado. Sendo assim, perceberemos que há manifestações do que é autêntico e há manifestações do que não é.
Uma das mais explícitas formas de autenticidade no cristianismo, creio eu, é a busca e o desejo incessante pelo Reino de Deus. Jesus, ensinando aos discípulos a orarem, disse-lhes que deveriam pedir (ao Pai) “venha a nós o vosso Reino”. No sermão do monte, exortou: “mas buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça”. E, noutra ocasião, foi taxativo: “o meu Reino não é desse mundo”. Foi Paulo, em Colossenses, que nos indicou onde buscar todas as coisas: “do alto, pois é lá que Cristo está”.

Caros, sabendo que o Reino de Deus não é deste mundo e que “se esperarmos em Cristo somente nessa vida somos os mais miseráveis dos homens”, não podemos esperar e creditar a este século a plenitude do Reino de Deus. Não podemos fazer deste mundo a nossa habitação. Não podemos, em hipótese alguma, nos conformamos e nos acomodarmos com o aqui e o agora.

Não é de hoje que vejo movimentos evangélicos, com lideranças e pregadores ignorantes quanto à verdade ou até mesmo de má fé, induzindo as pessoas a buscarem fazer daqui o Reino de Deus. Não são poucos os que pensam que a “benção” de Deus e a “vitória” que ele nos outorga é viver bem aqui, em conforto, e que é isso que devemos buscar.

Seria injusto se eu atribuísse tal coisa somente aos neopentecostais se constantemente vejo esse tipo de mensagem nas congregações da denominação em que sou membro. Já virou cultura, e cultura não costuma se contestar. Mas já passa da hora de se refletir sobre isto.

O amor de Deus, a sua benção e a vitória que Ele nos dá, jamais pode ser mensurada nessa vida. Não é aqui nossa habitação. Não é aqui que iremos ficar, portanto não é aqui que devemos esperar conforto. A vontade soberana de Deus referente a essa vida em nada nos é garantia de viver confortavelmente. Já disse C.S. Lewis, em meditação pessoal, que nós somos propensos a fazer daqui o nosso lugar, quando nos sentimos confortáveis, e é por isso que Deus nos faz passar por dias adversos. É como se Ele bradasse em nossos ouvidos: “aqui não é o seu lar”.

Então, meus caros, neste sopro a que chamamos de vida, busquemos o Reino aqui, e não que ele seja aqui. Busquemos a Deus e o seu Reino em verdade.


Anderson Bezerra

segunda-feira, 23 de março de 2015

Como foi seu dia?


Mesmo que o dia comece quando o relógio marca às 00h, a concepção corrente e espalhada na mente popular é que ele começa sempre ao raiar do sol, quando já é manhã. Dependendo do local, a hora exata do nascer solar varia, mas ao que parece, sempre consideram o início do dia ao raiar do sol.

O nascer do sol é lindo e encantador para os românticos aficionados por belas paisagens, principalmente o local que se está favorece as sensações visuais. Para o trabalhador, em seu cotidiano, o nascer do sol marca mas um dia árduo de trabalho, cheio de novidades imprevistas e de e mesmices esperadas. Para quem está iniciando um novo emprego ou até mesmo mais um momento de férias, o nascer do dia lhe reserva diversas novidades imprevisíveis, mesmo que algumas esperadas. São novas sensações.

Quero falar sobre um dia de minha vida.

Esse dia começou em fevereiro de 2011.

Bem, essa manhã, ao raiar do sol, chamada de 2011, era somente o início de um dos dias mais marcantes de minha vida. Como todo garoto que sonhava, planejava e criava diversas expectativas sobre seu futuro, assim era eu. E como a espera por um dia importante, assim esperava eu por esse dia.

Ele começou discreto, cheio de novidades. Ao sair de casa, depois de amanhecer, me deparei com outro mundo. Encantador, misterioso, com promessas de durezas e violências, ao mesmo tempo prometia alegrias e realizações. Esse novo mundo, em que minha estadia de um dia começara, me assombrava pela novidade, e me embelezava pelas formas.

Novas pessoas, novos locais, novas formas de aprender, novas formas de viver.

Como toda manhã, eu, normalmente preguiçoso e sonolento, não consegui aproveitar muito. Meu metabolismo sempre lento me fez cochilar na maior parte desse período (nas aulas de física, pra ser mais claro). Os mais dispostos, que me cercavam, logo se entrosaram nesse novo mundo de vivências espetaculares. Nos momentos em que acordei, algo fiz, mas pouco ficou. E o dia correu...

Correu que a manhã passou, e eu acordei, eu vivi. Vivi e pude me debruçar por esse mundo cada vez mais novo. Conhecer novas pessoas, experimentar novas experiências, criar uma nova vida.

Em um dia, mudei minha vida.

A tarde me reservou as mais incríveis, inesperadas e, de forma que não se da para medir, avassaladoras novidades que já me tinham acontecido nessa breve vida que tinha tido antes desse dia.

Sutilmente, fiz amigos. Pessoas estranhas se me apresentaram e me conheceram. Normal, todo dia pessoas novas aparecem na nossa frente. Mas o que é sútil e inesperado pode devagar se transformar e ganhar proporções gigantescas.

“Não despreze os tímidos começos, eles também rumam aos finais”.


As crianças estranhas que conheci cresceram em um dia. Ao fim desse dia passaram de crianças quaisquer a parte integrante e determinantes para o que cheguei a ser, ao fim do dia.

Aprendi que pessoas não são objetos, no correr desse dia.

A tarde não me apresentou apenas tais pessoas. A tarde me apresentou a mim mesmo.

Como todo jovem imaturo, sonhador, com todo o seu futuro planejado e traçado detalhadamente (como se pudéssemos determinar cada passo), assim era eu antes daquele dia. E assim comecei aquele dia. Mas aquela tarde quebrou todas as concepções que eu tinha sobre mim mesmo.

Quem disse que sabemos de tudo sobre nós?

Naquela tarde, com aquelas pessoas, em meio aquele turbilhão de programações que não me deixava parar, eu entendi não o que sou, mas o que eu posso chegar a ser. Nesse dia eu pude saber algo importante sobre mim. Tais pessoas, como partes constituintes de meu ser, e tais saberes como formadores de meu pensar, acabaram por influenciar o meu agir.

Sem dúvidas, a tarde foi o período mais longo desse dia, com toda essa relatividade temporal na nossa forma de ver o mundo. Sem dúvidas, essa tarde que não foi um fim, mas a construção e desenrolar desse dia, foi a melhor parte. (não falei de 1%, relembre você mesmo dos 99).

A noite chegou.

Seu início ainda preservava, em mim, uma vitalidade de um dia corrido. Mas, como todo dia corrido, o desgaste tinha visivelmente chegado. Mas ainda dava pra continuar.

Sabe as pessoas que conheci durante a tarde? Já eram tão familiares quando a noite chegou.

Sabe o eu que reconheci em mim durante a tarde? Já estava tão mais visível quando a noite chegou.

A noite veio para firmar o que de manhã se apresentou e o que de tarde se conheceu e construiu. E firmou mesmo. Firmou e esclareceu o que ainda não se havia esclarecido.

De noite, quando as crianças imaturas já haviam se transformado em jovens como um pouco de vivência, as coisas se mostraram mais claras e firmadas. Tanto eu, como os demais, já pareciam ter uma ideia com um bom fundamento sobre como a vida é. Claro, chegamos apenas ao alicerce dessa obra chamada vida.

A noite demorou a passar, mas está chegando ao fim.

Agora, depois desse dia corrido, volto para casa. Tudo mudou, de fato. Já não sou mais o mesmo que de manhã cedo se levantou para conhecer um pouco da vida, mas volto para casa diferente (e com alguns quilos a mais). Também cansado.

Como num dia corrido e bom, chego em casa recordando de tudo o que passou.

Ai que vontade de viver aquilo de novo!

Ai que vontade que muito daquilo se repita!

Mas a vida é assim, efêmera, tudo passa.

Me preparo para dormir com a sensação de que alguma coisa ainda pode acontecer, mas já não fará tanta diferença quando se compara ao que já aconteceu.

Bem, e o seu dia, como foi?

segunda-feira, 2 de março de 2015

Ouvindo o passado, contemplando o presente


Se algo me frustra em minha vida é o fato de eu nunca ter aprendido a tocar nenhum instrumento musical, não entender de música e muito menos ter voz para cantar e talento para compor. Mas a música não deixou de me encantar e seduzir por tais razões.

Além das sensações emocionais que a musicalidade, as combinações de som, dos mais diferentes ritmos conseguem impor na minha alma e trazer umas das mais singulares sensações que sempre conseguem expressar exatamente meu humor momentâneo, as letras que formam as canções me trazem uma visão de mundo e uma compreensão da realidade que raramente encontro em outros ramos da arte. Na filosofia costuma-se chamar de sensação de prazer estético, que é o momento no qual conseguimos contemplar a realidade através da arte.

Me sinto extremamente realizado ao “bailar no compasso das palavras”, como diz o Jorge Camargo em uma de suas músicas, e sinto o desejo de expressar isso as pessoas e ao mundo, por isso escrevo.

Escrevo sobre minhas sensações e gostos musicais por eles serem excêntricos, longe do usual e, não obstante, serem solitários. É difícil achar alguém que se empolgue com o que eu me empolgo.

Escrever é um ato solitário. É o momento que ninguém te acompanha, mas também ninguém faz falta. É nesse momento que todos os meus sentimentos de euforias são lançados para fora de mim, expostos ao mundo, oferecido a todos, e quando todos ignoram, já tanto faz, o sentimento externalizador já foi saciado.

Por isso venho escrever sobre a música. (Quem sabe não seja o princípio de um projeto futuro?)

Em minha história de vida, minha curta vida, já ouvi incontáveis músicas dos mais variados ritmos. Gostei de muitas e tive aversão por tantas outras. Nunca consegui dizer que tenho um cantor/banda favorita. São tantos os que me encantam. Mas sempre passo por momentos do tal prazer estético que ouço algo até cansar e em encontrar outro que me empolgue.

Por esses dias tenho me cansado de escutar composições de um cara legal, já falecido, chamado de Janires.

Pelo que já pesquisei, o Janires é um dos grandes marcos da música cristã no Brasil, sendo conhecido por muitos no meio musical, mas por quase nenhum dos que me cercam. Na minha geração reformulada e de tanto lixo que tem sido produzido no mercado gospel, a memória tem sido apagada aos poucos e os jovens de minha época já não saltam por “hiperlinks musicais” para conhecer o passado. As vezes (quase sempre) o passado é bom demais.

A obra de Janires é riquíssima por trazer uma perspectiva social e escatológica do evangelho. Não, o Janires não usava essas palavras difíceis e chatas do meio acadêmico, ele só via a igreja sendo agente de Deus nesse mundo, mas sempre sonhando com o céu, com o momento em que nos uniremos com o Senhor para a eternidade. Talvez por isso tenha morrido tão cedo, vítima de um acidente automobilístico enquanto voltava de um show.

Para conhecer essa grande figura, eu indico a música Amigo Poeta, composição de um dos componentes da Banda Azul, sua última banda, que retratava um pouco sobre a vida dele, e também a canção Espelho nos Olhos, uma de suas últimas composições e gravações, onde ele se autobiografou e, meio que profeticamente, falou de sua ida a “outro mundo”. Meses depois, morreu.

Outra grande figura que me encanta pela sua forma de produzir música cristã, e que também deixou cedo este mundo, aos 37 anos, vítima de câncer, é o Sérgio Pimenta.

O Sérgio foi “componente independente” do grupo Vencedores por Cristo (VPC), do qual saíram outras grandes figuras, como o Jorge Camargo e o João Alexandre. O que faz do Pimenta ser um cara de destaque na música cristã do Brasil, tendo vivido tão pouco tempo, é que ele trouxe todo o “gingado” popular da música brasileira, unido a letras poéticas, que expunham de forma tão simples e fantástica o evangelho e o sentimento de amor a Cristo, como a música “O que me faz viver”.

A maior parte da obra do Sérgio Pimenta foi gravada pelo VPC, entre as muitas conhecidas, posso destacar: Pescador, Você pode ter, A moçado Poço e Vem comigo. Tem muitas outras.

Bem, esses dois caras que já partiram para glória não são os únicos músicos crentes, poetas e cantores de qualidade que estão longe dos ouvidos da massa evangélica. Existem muitos outros, como os dois que citei acima, e tantos que me perderia se falasse agora. Não quis falar dos atuais, dos atuais com qualidade, pois muitos conhecem, mas meu desejo é expressar em alto e bom som: existe sim música cristã brasileira de qualidade, é só catar que achamos.

Escutem comigo :)

Anderson Bezerra

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Como procede o amor


Ontem ganhei de uma amiga um simples presente. Simples aos olhos naturais, mas de uma magnitude gigante quando se trata de meu eu interior cheio tensões existenciais. Como dedicatória vinha um agradecimento por coisas boas vindas de uma amizade.

A sensação de ser lembrando é muito boa e te faz se sentir amado. Um simples gesto se transforma num ato de carinho que marca.

Mas, como disse, foi um gesto onde demonstra a firmeza de uma amizade de onde procederam coisas boas.

Minha questão é: se eu a tivesse magoado, sido a pior pessoa que ela conheceu, feito coisas terríveis que a fizesse sentir dor profunda e abrisse uma ferida que dificilmente cicatrizaria, como ela teria me tratado?

A resposta mais óbvia possível que você poderia me dar, seria que eu merecia ser ignorado, esquecido, tratado com desprezo e apagado da memória dela. Para não dizer coisas piores. Esse é o pensamento mais comum a se ter, inclusive por mim. É tão lógico da ótica da nossa natureza humana que, possivelmente, todos a aconselhariam a fazer isso que disse, ou muito mais.

Sabe o que é interessante nessa hipótese? É que ela é real.

Não, eu não fiz nada disso com ela. Eu fiz muito pior que isso, mas com Deus. E você também (inclusive ela mesma).

E diferente de tudo o que eu sugeri, e que a maioria, para não dizer todos, iriam sugerir como resposta aos atos cruéis cometidos por mim na ilustração, Deus olhou para mim com amor. E me ofereceu um presente. Mas não foi um simples presente que alegrou e me marcou, foi o maior presente que poderia ser dado a qualquer homem: Ele me salvou.

Quando eu olho para a crucificação de Jesus Cristo, eu me vejo como o pior ser que poderia existir, pois quão grande, cruel, horripilante foi o meu pecado para que o Santo Filho de Deus fosse morto de forma tão bárbara e sangrenta. Tanta dor provocada por mim ao Justo.

É nesse momento que eu olho para o mais perfeito amor. Um amor que não buscou nenhum interesse próprio. Um amor que não foi demonstrado porque eu fiz por onde tê-lo, pelo contrário. Um amor que olhou para o seu maior ofensor e lhe ofereceu a maior dádiva. Maravilhoso e perfeito amor.

Depois de entender o que Ele fez por mim, como de tão grandioso modo me amou, eu me sinto triste e constrangido por todas as vezes que me senti não amado. Buscar de homens e mulheres, tão falhos quanto eu, o amor e me decepcionar por não senti-lo, me fez ver o quanto fui ingrato com Deus, por não ter abraçado e agradecido por esse amor.

Me sinto constrangido a abraçar esse amor que me cercou e me salvou. Que opera em mim todos os dias. Que nunca mais deixou me sentir sozinho e não amado. Só consigo ser grato.

Voltando a hipótese que levantei sobre minhas ações para com minha amiga, eu só posso dizer que, tendo ela recebido de Deus o mesmo amor que eu, a sua resposta aos feitos deveriam ser em amor.

É isso que Deus requer de nós. Se nós fomos tão maus para com Ele e mesmo assim Ele nos amou, é assim que devemos ser para nossos ofensores: Amá-los integralmente. Oferecer respostas amorosas. Ações bondosas, que visem somente o bem e os leve a Jesus Cristo.
Toda vez que se sentir ofendido, lembre: nenhuma ofensa se compara a que você cometeu contra Deus, e mesmo assim Ele te perdoou.

Responda a tudo e a todos em amor. Essa é a vontade de Deus para todos nós.

À propósito, ame também quem te ama, e dê livros a esses, como minha amiga fez comigo, rs.