segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O QUE SE ESCONDE NO CORAÇÃO QUANDO UMA MENTE BUSCA ENTENDER O AMOR?

Há algum tempo, muito influenciado pelas leituras de teologia que fiz, acrescentando a outras filosóficas (como Agostinho), o tema Amor ocupa um lugar cativo nas minhas meditações. É tanto que já escrevi alguns textos sobre o assunto, já dei alguns estudos – podendo classificar um deles como o que mais me marcou – e já conversei bastante sobre o amor com amigos e pessoas próximas. Não que o amor seja algo que investigo constantemente, ou que estudo com seriedade, mas é, com constância, uma questão que perturba meus pensamentos. 

Perturba por não ser um tema cativante por sua teoria, mas por sua prática. Eis a razão de eu não tentar estuda-lo seriamente. Seria como corromper a ideia e eu sentiria remorso por isso. Mas as dúvidas sobre o seu conceito – e sua consequente aplicação – me perturba mais ainda. Um sujeito como eu, que estuda filosofia e começa a se interessar pelos escritos de Hegel, onde o conceito de algo é que determina a sua aplicação real, não pode valorizar uma coisa só pelo seu aspecto prático. É por isso que, mesmo eu não correndo atrás de compreender o amor, ele constantemente vem, bate na porta de minha mente do nada, e me assombra com suas questões: o que é o amor? O que é o amar? Eu estou amando? Como estou amando? 

Sem sombras de dúvidas não é outro tipo de amor que mais me interessa compreender, a não ser o amor cristão, ou mesmo do próprio Cristo. O amor caritas. Aquele mesmo, traduzido por caridade mesmo sem significar filantropia. O amor caritas me perturba porque é um amor que faz o indivíduo amante despir-se de si. Nega-se a si mesmo, doando-se a outro. Ora, não foi exatamente isso que Jesus Cristo fez e que conclamou que nós fizéssemos? Não é esse o amor que mais temos dificuldades para vivê-lo? Conceitualmente ele é lindo. Na prática, é árduo. Todo o dia entro em conflito comigo mesmo por causa disso.

O mais cativante sobre o amor caritas é que, mesmo parecendo fácil de compreender o seu conceito, ele não se esgota facilmente. Ele se aplica a qualquer relação. Do homem com o Eterno, do Eterno com o homem e do homem com seus semelhantes. Não importa o tipo de relação: amigos, parentes, pessoas distantes, etc. Até mesmo, e de uma forma excessivamente bela, a uma relação conjugal.

E foi este último aspecto de relação humana que me trouxe de volta a pensar sobre o amor.

Ontem, ouvindo a música Rio Torto, do Marcos Almeida, me peguei gostando da musicalidade mesmo sem ver sentido na letra – coisa incomum na minha vida, que fique claro. Ouvi mais uma vez, agora lendo a letra simultaneamente. Por mais poética que a letra fosse, me vi desafiado a entendê-la. Sempre que nessa canção eu ouvia a palavra amor, desde sua versão em estúdio com a banda completa, e agora na versão acústica, eu só conseguia pensar no amor de modo geral, até que vi na letra tal parte: “Ela, e eu/ Navegar”. 

Como não saquei antes que a música se referia a pureza e a dificuldade de um amor entre duas pessoas? Um amor que, mesmo com as dificuldades enfrentadas por um rio torto, consegue continuar a percorrer o seu percurso? Quando a compreendi por esse viés consegui ver sentido naquela poesia que não exigia interpretação. Vi beleza naquela letra. Mas vi uma face de mim mesmo: qual a dificuldade que tenho de associar a palavra amor a um relacionamento a dois? 

Assim percebi que há muito tempo eu já não ouço a palavra amor e penso no amor romântico. Nem muito menos em eu sendo um dos personagens de uma relação afetiva. Isso me assombrou, mesmo eu não sabendo se era bom ou ruim está nessa condição. 

Preciso confessar: mesmo não sendo o foco dos meus dias pensar no assunto, eu, um jovem solteiro, que rompeu a barreira dos 20 anos a quase 2, até penso com certa frequência sobre namoro, casamento, etc. Penso se sou uma pessoa adequada para isso ou não. Penso que, não sendo, como seria viver só (mesmo não sendo solitário; sozinho e solitário são coisas diferentes). Mas e se eu for: como dar um próximo passo? Como “eleger” alguém para está ao meu lado? Quais os critérios que devo ter para a minha escolha? Em qual tipo de moça eu penso? Essas últimas questões me incomodam há tempos, mesmo não sendo prioritárias nesse momento da vida. Mas hoje eu dei um novo passo no que diz respeito a minha vida, e foi libertador.

Não, o passo não foi “eleger” alguém que contemple os meus pré-requisitos. Pelo contrário. Hoje percebi que, no pensamento de buscar um amor, eu só conseguia amar a mim mesmo. E isso não é amor. 

Todas as vezes que tentei pensar em uma lista de requisitos necessários para viver ao lado de alguém, sempre me colocava como o padrão. “Tal coisa se adequa a mim, essa outra nem pensar”. E quanto mais a lista crescia, mais ela se assemelhava a mim. Daí cheguei a triste e frustrante conclusão: eu queria mesmo é viver um amor a dois comigo mesmo. Mas isso é horrível. Primeiro porque não seria um amor a dois. Segundo porque eu não sou bom o suficiente. Se não o sou suficientemente bom para mim mesmo, como julgar que seria para alguém? E como exigir de alguém uma perfeição que eu não posso oferecer?

Essa conclusão me trouxe a escrever esse texto sem saber qual será o próximo episódio de minha vida, mas desejando libertar-me desse egoísmo escondido em um local tão profundo dentro de mim. Demorei 22 anos e 9 meses para identificá-lo.  E desejo para você, que se aventurou a ler esse texto, a mesma libertação. Afinal de contas: amar é esvaziar-se e doar-se, e não exigir que o Outro seja você mesmo. 

Anderson Bezerra

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