Se
algo me frustra em minha vida é o fato de eu nunca ter aprendido a
tocar nenhum instrumento musical, não entender de música e muito
menos ter voz para cantar e talento para compor. Mas a música não
deixou de me encantar e seduzir por tais razões.
Além
das sensações emocionais que a musicalidade, as combinações de
som, dos mais diferentes ritmos conseguem impor na minha alma e
trazer umas das mais singulares sensações que sempre conseguem
expressar exatamente meu humor momentâneo, as letras que formam as
canções me trazem uma visão de mundo e uma compreensão da
realidade que raramente encontro em outros ramos da arte. Na
filosofia costuma-se chamar de sensação de prazer estético, que é
o momento no qual conseguimos contemplar a realidade através da
arte.
Me
sinto extremamente realizado ao “bailar no compasso das palavras”,
como diz o Jorge Camargo em uma de suas músicas, e sinto o desejo de
expressar isso as pessoas e ao mundo, por isso escrevo.
Escrevo
sobre minhas sensações e gostos musicais por eles serem excêntricos, longe
do usual e, não obstante, serem solitários. É difícil achar
alguém que se empolgue com o que eu me empolgo.
Escrever
é um ato solitário. É o momento que ninguém te acompanha, mas
também ninguém faz falta. É nesse momento que todos os meus
sentimentos de euforias são lançados para fora de mim, expostos ao
mundo, oferecido a todos, e quando todos ignoram, já tanto faz, o
sentimento externalizador já foi saciado.
Por
isso venho escrever sobre a música. (Quem sabe não seja o princípio
de um projeto futuro?)
Em
minha história de vida, minha curta vida, já ouvi incontáveis
músicas dos mais variados ritmos. Gostei de muitas e tive aversão
por tantas outras. Nunca consegui dizer que tenho um cantor/banda
favorita. São tantos os que me encantam. Mas sempre passo por
momentos do tal prazer estético que ouço algo até cansar e em
encontrar outro que me empolgue.
Por
esses dias tenho me cansado de escutar composições de um cara
legal, já falecido, chamado de Janires.
Pelo
que já pesquisei, o Janires é um dos grandes marcos da música
cristã no Brasil, sendo conhecido por muitos no meio musical, mas
por quase nenhum dos que me cercam. Na minha geração reformulada e
de tanto lixo que tem sido produzido no mercado gospel, a memória
tem sido apagada aos poucos e os jovens de minha época já não
saltam por “hiperlinks musicais” para conhecer o passado. As
vezes (quase sempre) o passado é bom demais.
A
obra de Janires é riquíssima por trazer uma perspectiva social e
escatológica do evangelho. Não, o Janires não usava essas palavras
difíceis e chatas do meio acadêmico, ele só via a igreja sendo
agente de Deus nesse mundo, mas sempre sonhando com o céu, com o
momento em que nos uniremos com o Senhor para a eternidade. Talvez
por isso tenha morrido tão cedo, vítima de um acidente
automobilístico enquanto voltava de um show.
Para
conhecer essa grande figura, eu indico a música Amigo Poeta,
composição de um dos componentes da Banda Azul, sua última banda,
que retratava um pouco sobre a vida dele, e também a canção
Espelho nos Olhos, uma de suas últimas composições e gravações,
onde ele se autobiografou e, meio que profeticamente, falou de sua
ida a “outro mundo”. Meses depois, morreu.
Outra
grande figura que me encanta pela sua forma de produzir música
cristã, e que também deixou cedo este mundo, aos 37 anos, vítima
de câncer, é o Sérgio Pimenta.
O
Sérgio foi “componente independente” do grupo Vencedores por
Cristo (VPC), do qual saíram outras grandes figuras, como o Jorge
Camargo e o João Alexandre. O que faz do Pimenta ser um cara de
destaque na música cristã do Brasil, tendo vivido tão pouco tempo,
é que ele trouxe todo o “gingado” popular da música brasileira,
unido a letras poéticas, que expunham de forma tão simples e
fantástica o evangelho e o sentimento de amor a Cristo, como a
música “O que me faz viver”.
A
maior parte da obra do Sérgio Pimenta foi gravada pelo VPC, entre as
muitas conhecidas, posso destacar: Pescador, Você pode ter, A moçado Poço e Vem comigo. Tem muitas outras.
Bem,
esses dois caras que já partiram para glória não são os únicos
músicos crentes, poetas e cantores de qualidade que estão longe dos
ouvidos da massa evangélica. Existem muitos outros, como os dois que
citei acima, e tantos que me perderia se falasse agora. Não quis
falar dos atuais, dos atuais com qualidade, pois muitos conhecem, mas
meu desejo é expressar em alto e bom som: existe sim música cristã
brasileira de qualidade, é só catar que achamos.
Escutem
comigo :)
Anderson
Bezerra
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