segunda-feira, 2 de março de 2015

Ouvindo o passado, contemplando o presente


Se algo me frustra em minha vida é o fato de eu nunca ter aprendido a tocar nenhum instrumento musical, não entender de música e muito menos ter voz para cantar e talento para compor. Mas a música não deixou de me encantar e seduzir por tais razões.

Além das sensações emocionais que a musicalidade, as combinações de som, dos mais diferentes ritmos conseguem impor na minha alma e trazer umas das mais singulares sensações que sempre conseguem expressar exatamente meu humor momentâneo, as letras que formam as canções me trazem uma visão de mundo e uma compreensão da realidade que raramente encontro em outros ramos da arte. Na filosofia costuma-se chamar de sensação de prazer estético, que é o momento no qual conseguimos contemplar a realidade através da arte.

Me sinto extremamente realizado ao “bailar no compasso das palavras”, como diz o Jorge Camargo em uma de suas músicas, e sinto o desejo de expressar isso as pessoas e ao mundo, por isso escrevo.

Escrevo sobre minhas sensações e gostos musicais por eles serem excêntricos, longe do usual e, não obstante, serem solitários. É difícil achar alguém que se empolgue com o que eu me empolgo.

Escrever é um ato solitário. É o momento que ninguém te acompanha, mas também ninguém faz falta. É nesse momento que todos os meus sentimentos de euforias são lançados para fora de mim, expostos ao mundo, oferecido a todos, e quando todos ignoram, já tanto faz, o sentimento externalizador já foi saciado.

Por isso venho escrever sobre a música. (Quem sabe não seja o princípio de um projeto futuro?)

Em minha história de vida, minha curta vida, já ouvi incontáveis músicas dos mais variados ritmos. Gostei de muitas e tive aversão por tantas outras. Nunca consegui dizer que tenho um cantor/banda favorita. São tantos os que me encantam. Mas sempre passo por momentos do tal prazer estético que ouço algo até cansar e em encontrar outro que me empolgue.

Por esses dias tenho me cansado de escutar composições de um cara legal, já falecido, chamado de Janires.

Pelo que já pesquisei, o Janires é um dos grandes marcos da música cristã no Brasil, sendo conhecido por muitos no meio musical, mas por quase nenhum dos que me cercam. Na minha geração reformulada e de tanto lixo que tem sido produzido no mercado gospel, a memória tem sido apagada aos poucos e os jovens de minha época já não saltam por “hiperlinks musicais” para conhecer o passado. As vezes (quase sempre) o passado é bom demais.

A obra de Janires é riquíssima por trazer uma perspectiva social e escatológica do evangelho. Não, o Janires não usava essas palavras difíceis e chatas do meio acadêmico, ele só via a igreja sendo agente de Deus nesse mundo, mas sempre sonhando com o céu, com o momento em que nos uniremos com o Senhor para a eternidade. Talvez por isso tenha morrido tão cedo, vítima de um acidente automobilístico enquanto voltava de um show.

Para conhecer essa grande figura, eu indico a música Amigo Poeta, composição de um dos componentes da Banda Azul, sua última banda, que retratava um pouco sobre a vida dele, e também a canção Espelho nos Olhos, uma de suas últimas composições e gravações, onde ele se autobiografou e, meio que profeticamente, falou de sua ida a “outro mundo”. Meses depois, morreu.

Outra grande figura que me encanta pela sua forma de produzir música cristã, e que também deixou cedo este mundo, aos 37 anos, vítima de câncer, é o Sérgio Pimenta.

O Sérgio foi “componente independente” do grupo Vencedores por Cristo (VPC), do qual saíram outras grandes figuras, como o Jorge Camargo e o João Alexandre. O que faz do Pimenta ser um cara de destaque na música cristã do Brasil, tendo vivido tão pouco tempo, é que ele trouxe todo o “gingado” popular da música brasileira, unido a letras poéticas, que expunham de forma tão simples e fantástica o evangelho e o sentimento de amor a Cristo, como a música “O que me faz viver”.

A maior parte da obra do Sérgio Pimenta foi gravada pelo VPC, entre as muitas conhecidas, posso destacar: Pescador, Você pode ter, A moçado Poço e Vem comigo. Tem muitas outras.

Bem, esses dois caras que já partiram para glória não são os únicos músicos crentes, poetas e cantores de qualidade que estão longe dos ouvidos da massa evangélica. Existem muitos outros, como os dois que citei acima, e tantos que me perderia se falasse agora. Não quis falar dos atuais, dos atuais com qualidade, pois muitos conhecem, mas meu desejo é expressar em alto e bom som: existe sim música cristã brasileira de qualidade, é só catar que achamos.

Escutem comigo :)

Anderson Bezerra

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